dezembro 27, 2010

Blink de Malcolm Gladwell

Malcolm Gladwell é jornalista de profissão mas escreve sobre ciência, constrói pensamento sobre conhecimento que se vai construindo nas áreas da sociologia, psicologia, economia entre outras. Em 2005 foi eleito pela Time uma das 100 pessoas mais influentes.

Em Blink (2005) o conceito que nos traz é denominado por thin slicing. Aqui Gladwell define que é possível extrapolar conhecimento em profundidade a partir de "pequenas porções" extraídas do objecto em análise. Ou seja a sua tese diz-nos que não precisamos de muita informação para determinar os resultados de uma investigação. E mesmo até que muita informação pode ser contra-producente porque pode gerar confusão e entropia.

Isto claramente que levantou objecções à saída do livro, e ainda hoje, porque vai contra tudo aquilo que defendemos em ciência, que precisamos de informação em profundidade e extensão para podermos tomar posições

Na minha opinião existe alguma verdade nestas afirmações, mas o conceito de Gladwell é ele também muito interessante e real. Isto porque aquilo que nos é dito é que a produção de decisão sobre uma pequena quantidade de matéria de um assunto não pode ser produzida por qualquer um, mas é-o apenas possível por quem possui consigo já enormes quantidades de conhecimento e saber prévio sobre aquele mesmo assunto. Assim e no fundo o que Gladwell advoga aqui é algo bem conhecido da psicologia e até utilizado pelos algoritmos de inteligência artificial, o "case-based reasoning". O sistema de análise da situação, socorre-se da base de dados de casos semelhantes enfrentados previamente, memorizados no seu todo ou em parte, para associar ao que está a ver e a receber naquele momento para emitir um primeiro juízo, ou percepção.

Claro que como nos vai dizer Gladwell estas pessoas quando realizam esta reflexão são incapazes de explicar porque "sentem" que aquele será o resultado, mas tudo para elas indica que assim será.
O livro está depois repleto de casos explicativos deste aparente poder de "recortar as pequenas porções", de análises num piscar (blink) de olhos. Desde o especialista que consegue dizer se um casal se vai divorciar, em apenas 60 segundos de observação de comportamentos, ao polícia que consegue ler no comportamento do agressor, em segundos, se este irá puxar o gatilho.


Um dos casos mais interessante é o que abre o livro sobre o Kouros do museu Getty da California. A análise de autenticidade desta estátua grega foi realizada seguindo os trâmites mais elaborados e detalhados até chegar ao momento em que o museu pagou 7 milhões de dólares pela mesma. Contudo quando apresentada a alguns dos especialistas na arte estes imediatamente percepcionaram algo de errado com a estátua. Problema: não saberem explicar detalhadamente porquê, porque é um sentimento e não uma cognição. A verdade é que posteriormente com mais análise descobriu-se que realmente a estátua não tem uma proveniência fidedigna, tendo sido criado um embuste em toda a sua história. Continua no entanto no museu porque a técnica utilizada é de tal modo bem conseguida que engana facilmente qualquer pessoa menos experimentada, e provavelmente dado o valor investido pelo museu.


UPDATE 08.2011:
Dentro desta linha ver a análise realizada ao livro How we Decide (2009) de Jonah Lehrer

1 comentário:

  1. É um bom princípio de gestão de esforço, mas não permite ignorar o facto de que a análise de pormenores, mais do que só dar entropia, é o cerne da ciência: permite constatar que as nossa estruturas de raciocínio prévias estão erradas - coisa que o case-based reasoning não permite, pois cada novo caso só confirma os pressupostos de partida...

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