junho 26, 2011

a Filosofia do espaço virtual

Aqui há uns tempos deixei aqui um texto a propósito do belo na matemática, hoje acedo pela outra extremidade, a da filosofia. Não propriamente para falar da questão do belo enquanto lógica, mas antes para falar do modo como organizamos conceptualmente a ideia do virtual, dos mundos virtuais e dos seus avatars.


Para o fazer vou apresentar um projeto interessantíssimo desenvolvido por Luís Petry "Labirinto Artístico-Filosófico 1260". Antes de entrar na obra devo dizer que Luís Petry é investigador e professor na área das Tecnologias da Inteligência e Design Digital na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil. Com formação em Filosofia Hermenêutica e doutorado em Comunicação e Semiótica, trabalha no Núcleo de Pesquisa em Hipermídia e Games da PUCSP. Agora podem perceber porquê uma apresentação da pessoa por detrás da obra, porque só alguém com este perfil poderia produzir um objeto digital para nos indagar tão profundamente, e questionar não só sobre a obra tratada, como sobre a nossa visão de todo um campo criativo. Além de toda a profundidade teórica subjacente à obra, Petry foi ele mesmo o criador do artefacto fazendo uso do Unity 3d.


Labirinto Artístico-Filosófico 1260 leva-nos por entre um mundo virtual, questionando-nos sobre a interação do pensamento e o seu mapeamento num espaço tridimensional interativo. Seguindo uma estrutura labiríntica vai-nos lançado sobre imagens, textos e geometrias que nos instigam a desvelar o sentido do pensar. A racional do projeto é apresentada com base em conceitos de lógica, que se cruzam com ideias do universo matemático. Aliás Petry tinha mesmo definido uma nova abordagem aos espaços tridimensionais no seu doutoramento, a Topofilosofia (2003) e que neste projeto ganha forma. Dizia ele em texto,
"Como manifestação, a hipermídia, tal como a arte, organiza um corpus que se integra na historicidade da formação propiciada pela tradição. Como interrogação, a hipermídia atravessa os abismos de incertezas que rondam o espírito humano, construindo um espaço de mútuo questionamento: de um lado colocando questões ao ser do homem e, de outro, enunciando-se como pertencente ao universo daquele como uma de suas manifestações. Trata-se aqui da estrutura de um jogo, no qual o sentido do jogar é ser jogado se dispõem no livre e aberto que propicia o habitar (entorno), enquanto linguagem viva (interatividade). E esta estutura de jogo, como já observamos anteriormente, se organiza numa estrutura de pensamento topológica, na qual a torção se constitui em sua chave hermenêutica. Por isso, penso que deve-se retomar a observação hermenêutica sobre o pensar heraclitiano: o “pensar sobre o pensar possui em si algo de torcido e velado, em que e pelo que o pensamento se curva e se retorce sobre si mesmo, desistindo de seu caminho reto”"

Entretanto descubro agora que a obra Labirinto Artístico-Filosófico 1260 e o Luis Petry estarão em Portugal na 16ª Bienal de Cerveira em 2011. Será uma excelente oportunidade para discutir pessoalmente estas abordagens, e ideias da relação entre as nossas projeções exteriores e o modo como nos definimos no mundo.

Seguindo nesta senda pela descoberta do virtual no real, um projeto machinima recentemente realizado em Second Life, chamou a minha atenção. A sua componente estética brilha e dá suporte à toda a discussão em redor do fundamento do Avatar. Um filme que nos leva por entre uma viagem virtual em SL até à real India. "A Journey into the Metaverse" ganhou o primeiro prémio no, MachinimUWA III, 3º concurso de machinima organizado pela University of Western Australia, um prémio no valor de L$ 100,000. Vale a pena os 10 minutos, distendam-se, viagem e absorvam. Depois disto uma viagem pelo Labirinto interativo de Petry ganha todo um novo potencial de criação de conhecimento em nós.


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