fevereiro 05, 2014

Manipulação da democracia, e a praxe da Ciência

Foi hoje revelado pela RTP que “O Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia tem em mãos um documento interno cuja divulgação estará a ser retardada devido ao tom crítico com que se refere às políticas do Governo para a área da ciência e da investigação em Portugal”. [1] Passaram-se 3 semanas depois da reunião do CNCT, e ninguém mais questionou sobre este relatório, crucial para o futuro da Ciência em Portugal. Porquê?


A resposta está à vista, olhe-se para AGENDA dos media durante este período, e facilmente se perceberá, como foi possível tornar um dos assuntos mais relevantes para o futuro nacional, num assunto menor, sem importância. Ora vejamos,

15 Dezembro 2013 - Morrem na Praia do Meco 6 Jovens
26 Dezembro 2013 - Último corpo encontrado.

15 de Janeiro 2014 - Decorre uma missa em honra dos 6 jovens, com toda a normalidade   [2]
15 de Janeiro 2014 - Revelação do desastre ocorrido com as bolsas da FCT [3]
16 de Janeiro 2014 - Revelados os primeiros indícios sobre o Meco (trajes e telemóveis) [4]

18 Janeiro 2014 - Pais dos jovem pressionam sobrevivente [5]
20 Janeiro 2014 - Lusófona abre inquérito [6]
22 Janeiro 2014 - Meco em Segredo de Justiça [7]

23 Janeiro 2014 - Reunião do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia [8]
24 Janeiro 2014 - Revelado que jovens traziam pedras amarradas aos tornozelos. [9]

27 Janeiro 2014 - Secretário de Estado pronuncia-se sobre Praxe e Meco [10]
3 Fevereiro 2014 - Prós e Contras sobre a Praxe [11]

4 Fevereiro 2014 - Passos critica anterior política para a ciência [12]
5 Fevereiro 2014 - Comunicado crítico para o Governo deixa Conselho para a Ciência num impasse [13]

Os bolseiros da FCT foram arrumados na prateleira, e as vozes dos cientistas, mais respeitados internacionalmente, caladas. Um assunto complexo, difícil de explicar à sociedade, e muito incómodo para o governo, é atirado para debaixo do tapete, de forma verdadeiramente magistral.

A 4 de Fevereiro quando se suspeita que a comunicação social poderá vir falar sobre o atraso do relatório, Passos Coelho fala, antecipando o que eles possam dizer, descredibilizando-os totalmente.
“Durante vários anos, conseguimos transferir mais recursos para o sistema e atribuir mais bolsas. No entanto, quando medimos depois o número de patentes que são registadas, o número de artigos científicos que são publicados, quando medimos o resultado e a qualidade desse resultado, nós passávamos de indicadores que pareciam comparar muito bem com os países com que gostamos de nos comparar para comparar muito mal sempre que olhávamos à substância dos indicadores” Passos Coelho a 4.2.2014 [12]
Aquilo que foi ontem dito por Passos Coelho, é FALSO, é MENTIRA. As provas estão na imagem abaixo, criada pela revista Nature e publicada a 19 de Dezembro de 2012 [14]. Ou como se pode ver no último levantamento da Times Higher Education (THE), das 100 Melhores Universidades com menos de 50 anos, em que aparecem destacadas três universidades nacionais [15]. Ou como se pode ver ainda na comparação que realizei entre Portugal e três países europeus, com densidade populacional aproximada.

Mapa das publicações científicas mundiais de todo o ano de 2012, no qual se pode ver Portugal bastante bem representado face aos países da sua dimensão. [14]

THE 100 Under 50 de 2013, com 3 Universidades portuguesas. [15]

Comparação de produção de artigos científicos entre países de dimensão aproximada (1996-2012). Em 15 anos Portugal aumentou 7 vezes a sua produção, enquanto todos os outros três países o fizeram apenas 2 vezes.  [17]


Troca-se a Ciência pelo Meco. O país passa a preocupar-se com a Praxe, algo terrível, que apenas por coincidência brota das Universidades. Tudo isto não é em nada diferente do modo como Passos Coelho foi eleito Primeiro Ministro, já explicado por um dos manipuladores de opinião online, na sua recente tese de mestrado, que deu origem a uma reportagem na Visão, Ascensão e queda de Passos, versão 2.0 [16].

Para todos estes actores nacionais, não interessa verdadeiramente o país, não interessa o futuro de um povo, interessa primeiro o seu futuro, e esse depende apenas e só das aparências. Quanto melhor ficarem na fotografia, ou seja quanto melhor conseguirem manipular os que os rodeiam, mais hipóteses terão de serem contratados por uma grande empresa à saída, ou um cargo de relevo no FMI, na Comissão Europeia, no BCE ou até no Goldman Sachs.

Porque esse é o trabalho de um verdadeiro político, manipular as crenças, não resolver problemas.

[1] RTP Online, 5 Fevereiro 2014
[2] Correio da Manhã, 15 de Janeiro 2014
[3] Público, 15 de Janeiro 2014
[4] DN, 16 de Janeiro 2014
[5] Expresso, 18 Janeiro 2014
[6] Sol, 20 Janeiro 2014
[7] ASJP, 22 Janeiro 2014,
[8] RTP, 23 Janeiro 2014
[9] Público, 24 Janeiro 2014
[10] RR, 27 Janeiro 2014
[11] RTP, 3 Fevereiro 2014
[12] Público, 4 Fevereiro 2014
[13] RTP Online, 5 Fevereiro 2014
[14] Nature, 19 Dezembro 2012
[15] THE, 2013
[16] Visão, 21 Novembro 2013
[17] SJR, 6 Fevereiro 2013

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