fevereiro 06, 2016

“Frankenstein: ou O Prometeu Moderno”

É um clássico, não porque fez melhor mas porque fez primeiro. Mary Shelley cria todo um universo a partir das preocupações da época em que vivia — eletricidade, ciência e industrialização — e cria algo completamente novo, um rasgo de pura criatividade que se veio a tornar num ícone dos mundos de ficção.

Ilustração do interior de capa da 3ª edição

Como texto é muito acessível, e os símbolos vão surgindo de forma explícita, desde logo com o subtítulo — “O Moderno Prometeu” — e o colocar da “criatura” a ler o “Paraíso Perdido” de John Milton. Ou seja, Shelley é muito direta no que pretende dizer com a sua obra, dedicando-se essencialmente à construção da hipótese que nos serve de ambiente de reflexão. Esta hipótese, no fundo dar vida a partes de corpos mortos, surge na senda dos anseios desse tempo que rodeavam a electricidade e a energia das células nervosas descobertas por Luigi Galvani. A ciência estava no seu auge, nomeadamente com a sua aplicação em crescendo na industrialização e automatização da atividade humana.

A narrativa segue todo um padrão romântico, também do seu tempo, com tendências góticas. O humano é aqui o centro do mundo, e em seu redor tudo é dramático e trágico, a noite e o negro perseguem os personagens, e a insanidade toma facilmente conta das emoções, tudo isto serve de pressão psicológica para fuga na ânsia do fim dos medos, nem que isso implique a própria morte.

Frankenstein” é uma crítica do seu tempo, mas sobreviveu ao mesmo porque foi além, apontando problemas e levantando questões que se nos continuam a colocar hoje — o que é o ser humano? que responsabilidades temos para com os outros?. Mais recentemente estas mesmas questões retomaram toda a relevância com o surgimento dos robôs e da inteligência artificial, tornando o romance de Shelley numa obra novamente atual e relevante. Por isso não admira que o livro seja hoje uma das obras de ficção mais estudadas nas Universidades americanas.

Para quem viu vários dos filmes, nomeadamente os grandes clássicos dos anos 1930 da Universal Pictures, o imaginário criado tem pouco que ver com o que se pode aqui ler. A primeira vez que, via cinema, me aproximei da ideia aqui contida foi na versão de 1994 de Kenneth Branagh com Robert de Niro no papel da “criatura”, intitulado “Mary Shelley's Frankenstein”, que como o próprio título indica, pretendia voltar à fonte e fazer um filme o mais próximo possível da ideia original de Shelley.

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