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julho 07, 2020

O adeus íntimo de Morricone

Já tinha partilhado esta carta no Facebook, mas depois de a traduzir para português senti a mesma com tanta mais intensidade a ponto de a querer repartilhar. É um adeus sincero e honesto, mas é um adeus profundamente pensado nos outros, naqueles que ficam. Não há espaço para glórias, feitos ou grandezas tudo isso é vão, irrelevante e secundário. Morricone trabalhou uma vida inteira para criar o Épico através da sua música, mas ao partir é apenas do Amor pelo outro que nos fala.
Imagem do momento, com a carta de Morricone, em que foi anúnciada a morte em Roma

Vêm-me à cabeça dezenas de imagens de filmes musicados por Morricone, centenas de horas passadas a ouvir os seus discos, mundos-história inteiros sintetizados em pequenos momentos capazes de nos retirar do lugar e de nos fazer viajar infinitamente. Acredito no seu sentido íntegro e único, mas questiono-me o quanto deste texto de adeus, escrito pouco antes de se ter sentido mal e pressentir que estava quase a deixar-nos, se relaciona com a maneira de estar latina? O quanto tem isto que ver com a necessidade e reconhecimento do outro humano, aquele que conosco faz a jornada, a necessidade de proximidade desse outro? Caminhamos para um mundo de total individualismo, em que o espaço é cada vez mais pequeno para a relação humana, e em que tudo se move por objetivos, metas, métricas e valores financeiros...
Ennio Morricone e Maria Travia

Tradução para português
Obituário escrito pelo Papa

Eu
ENNIO MORRICONE
Estou morto.

Por isso anuncio a todos os amigos que sempre estiveram próximos de mim e também aos que estão um pouco distantes e os saúdo com muito carinho. Impossível nomear todos eles.

Mas uma lembrança especial é para Peppuccio e Roberta, amigos fraternos muito presentes nos últimos anos da nossa vida.

Há apenas uma razão que me leva a cumprimentar todos assim e a ter um funeral de forma privada: não quero incomodar.

Saúdo calorosamente Inês, Laura, Sara, Enzo e Norbert, por terem partilhado grande parte da minha vida comigo e com a minha família.

Quero lembrar com amor as minhas irmãs Adriana, Maria, Franca e seus entes queridos e dizer a eles o quanto eu os amava.

Uma saudação completa, intensa e profunda aos meus filhos Marco, Alessandra, Andrea, Giovanni, minha nora Monica e aos meus netos Francesca, Valentina, Francesco e Luca.

Espero que eles entendam o quanto eu os amava.

Por último mas não menos importante (Maria). Renovo contigo o extraordinário amor que nos uniu e que lamento abandonar.

Para ti a despedida mais dolorosa."
Morricone com a esposa e filhos

Texto original
NECROLOGIO SCRITTO DA PAPA'

Io
ENNIO MORRICONE
sono morto.

Lo annuncio così a tutti gli amici che mi sono stati sempre vicino e anche a quelli un po’ lontani che saluto con grande affetto. Impossibile nominarli tutti. 

Ma un ricordo particolare è per Peppuccio e Roberta, amici fraterni molto presenti in questi ultimi anni della nostra vita.

C'è una sola ragione che mi spinge a salutare tutti così e ad avere un funerale in forma privata: non voglio disturbare.

Saluto con tanto affetto Ines, Laura, Sara, Enzo e Norbert, per aver condiviso con me e la mia famiglia gran parte della mia vita.

Voglio ricordare con amore le mie sorelle Adriana, Maria, Franca e i loro cari e far sapere loro quanto gli ho voluto bene. 

Un saluto pieno, intenso e profondo ai miei figli Marco, Alessandra, Andrea, Giovanni, mia nuora Monica, e ai miei nipoti Francesca, Valentina, Francesco e Luca. 

Spero che comprendano quanto li ho amati. 

Per ultima Maria (ma non ultima). A Lei rinnovo l’amore straordinario che ci ha tenuto insieme e che mi dispiace abbandonare. 

A Lei il più doloroso addio.

janeiro 18, 2016

A última lição de Bowie (a morte criativa)

Acabo de ouvir, pela primeira vez completo, “Blackstar” (2016) e não consigo conter em mim todas as ideias que me surgem na interpretação do álbum, agora que ele já não está entre nós, nomeadamente sabendo que ele sabia no momento da sua criação que os seus dias estavam a terminar. Este álbum é o fecho do seu legado, mas mais do que isso é uma enorme fonte de inspiração.




Era miúdo nos anos 1980 quando ouvi e vi pela primeira vez Bowie na televisão, o impacto não foi grande, era apenas mais uma estrela pop do momento, cabelo loiro espetado tal como tantos outros. Foi mais perto do final dessa década que vi pela primeira vez “Christiane F.” (1981) e assim enquanto descobria os efeitos da droga que alimentava a vida noturna de Berlim, descobria também verdadeiramente Bowie com “Heroes” (1977). Desde então nunca mais deixei de o associar a este momento, a esta música, mas mais do que isso passou a fazer parte da minha paisagem cinematográfica, pois foram tantas as vezes que ele voltou a surgir para marcar essa arte, nomeadamente voltaria a conseguir o mesmo feito em mim, com "I'm Deranged" (1995) em “Lost Highway” (1997) de David Lynch.



Por sinal ao ver agora o teledisco “Blackstar” de 10 minutos não consegui deixar de o ligar a “Lost Highway”, tanto pela estética visual e sonora, como pelo surrealismo que impregna a mensagem e nos obriga a trabalhar na interpretação. Todo o álbum é profundamente cinemático, como se Bowie estivesse não apenas a compor música, mas antes um contínuo audiovisual na sua cabeça, sobre tudo aquilo que nos queria dizer antes de partir.


Quando Kornhaber tentava interpretar Blackstar para a revista The Atlantic, dois dias antes de Bowie morrer, as ideias que lhe surgiam, ainda livres do condicionamento da sua morte, eram bem clarividentes da mensagem de Bowie contida no álbum:
“a (..) voice in the background squeals “I’m a blackstar” and modulations on it: “I’m not a filmstar,” “I’m not a marvel star,” “I’m not a pop star.” There’s also this: “You’re a flash in the pan / I’m the great I Am.” To whatever extent these lyrics can be summarized, they are about worship, ambition, and ascendance — and, more than anything, the allure and power of being “at the center of it all”.

To me, it’s the sound of someone gaining significance by insisting upon their significance; someone hungering to be above, unique, and immortal; someone awing the rest of mankind by standing apart from it. It’s about ego, and about how indulging one’s ego can, paradoxically, inspire others to forget their own. (..)

Could the celestial body of the title be the same force that has animated a career as extreme, as willful, as self-directed, and as influential as the one he has led? Alternately, is he himself the blackstar? (..)


Again and again on Blackstar, Bowie sings as someone whose achievements have wowed mankind while separating him from it, and who regards that separation with a mixture of pride and pain.”
Ao ouvir Blackstar senti muito daquilo aqui expresso por Kornhaber, nomeadamente não conseguia deixar de ver Bowie como a blackstar, uma estrela em fim de vida, que brilhou intensamente, que deu tudo o que tinha para dar, e agora tinha chegado o momento de se extinguir. Como nos diz na última música de Blackstar, "I Can't Give Everything Away":
“I can't give everything
Away

Seeing more and feeling less
Saying no but meaning yes
This is all I ever meant
That's the message that I sent”
E no meio de tudo isto não consegui deixar de pensar: como foi possível? Alguém em fim de vida, passando 18 meses com o cancro, sabendo que ia morrer, em modo totalmente terminal, ter investido toda a sua última réstia de energia para construir mais um álbum, o 25º. O que o movia a fazer mais um? O que buscava? Acredito que era a sua necessidade intrínseca de comunicar, de se juntar a nós, e a única forma de o fazer bem, a forma que melhor conhecia era compondo e cantando. Quando se diz que escondeu a doença que não quis dizer a ninguém, não me parece, Bowie optou por dizê-lo através da sua música, não se escondeu. Blackstar é uma homenagem à sua arte, mas foi a sua forma de nos dizer que tinha chegado o momento, e que não desejava esconder-se, definhar, mas antes brilhar até ao final, ser uma estrela que só se extingue quando o último raio brilha.

Mas é mais, esta obra é uma homenagem a todos aqueles que sofrem desta doença, que a combatem todos os dias, é uma réstia de uma estrela que brilha e nos diz que o avistamento da morte não deve ser razão para fugir da sociedade. O cancro não é com certeza uma morte fácil e indolor, mas é a única, tal como disse Richard Smith que nos dá tempo para nos prepararmos, e foi por isso que este a considerou “a melhor morte”. Saber que vamos morrer em breve, pode debilitar a motivação e energia, mas se nos agarrarmos a esta ideia de que temos o tempo marcado, poderemos tentar fazer desses últimos dias o melhor que pudermos, dificilmente para nós, mas para quem fica. E nesse sentido Bowie mostrou como — fazendo, construindo, criando.

maio 07, 2013

Ray Harryhausen (1920-2013)

Hoje morreu Ray Harryhausen uma das mentes brilhantes dos efeitos especiais da arte cinematográfica. Em homenagem deixo aqui uma parte do texto que lhe dedico no livro Emoções Interactivas (2009:96-99). No livro além desta breve história do seu trabalho, analiso mais extensamente a cena da luta de esqueletos de Jason and the Argonauts (1963).

Jason and the Argonauts (1963)

"A carreira cinematográfica de Harryhausen, propriamente dita, começa com Mighty Joe Young em 1949, uma espécie de sequela de King Kong, filme no qual O’Brien supervisionava os Efeitos Visuais e terá dessa forma pedido a Harryhausen  para integrar a equipa de animadores. Harryhausen começava assim a sua carreira profissional pelas mãos do mestre, demonstrando um verdadeiro talento para o stop-motion e acabando por ser ele próprio, sozinho, a concretizar cerca de 85% da animação total do filme. O’Brien que, após King Kong, poucas mais oportunidades terá tido para desenvolver o stop-motion, relegava assim para o seu aluno Harryhausen, a tarefa de desenvolver e aperfeiçoar uma arte em que ele praticamente tinha sido o pioneiro. Mighty Joe Young, foi um sucesso popular, chegando mesmo a receber o Óscar de melhores efeitos visuais em 1950, o que possibilitou a Harryhausen aspirar a uma verdadeira carreira nos efeitos visuais.


Harryhausen animando Mighty Joe Young (1950)

Em 1953, após a exploração espacial de George Pal, Harryhausen trouxe a ficção científica de novo à Terra, adaptando um conto de FC do seu grande amigo Ray Bradbury, The Beast from 20,000 Fathoms, 1953. Um filme que marca o início de destruições massivas no currículo de Harryhausen, começando aqui pela cidade de Nova York. Em 1955, a destruição chega a São Francisco em forma de Octopocus. O filme chamava-se It Came From Beneath, 1955. De forma a cortar nos custos, Harryhausen desenvolve um polvo com apenas seis patas. Dessa forma poupou imenso trabalho e tempo na animação das patas do Octopocus e o único constrangimento que teve foi, não poder deixar o monstro sair totalmente de dentro de água na sequência em que este destrói a ponte Golden Gate. Já em 1956, a devastação continuava na mente de Harryhausen, trazendo agora a destruição até Washington D.C. pelas mãos de extraterrestres. Earth Vs. The Flying Saucers, 1956 vai criar os cânones para a representação de naves extraterrestres no cinema, de tal forma que passados quase 40 anos, Tim Burton continuará a usar a mesma forma de representação em Mars Attacks, 1996. Em 1957, Harryhausen faria a ultima incursão no reino da destruição com 20 Million Miles to Earth, 1957 curiosamente a primeira destruição fora do território americano, talvez por já pouco restar para destruir nos Estados Unidos! Sendo desta vez o alvo, o Coliseu de Roma em Itália e o monstro um ser alienígena trazido por uma viagem de regresso à terra. 20 Million Miles to Earth fecha assim um ciclo de filmes que se enquadram na perfeição na idade da “Imaginação do desastre” que Sontag descreveu. Harryhausen confessa mesmo que a determinada altura se sentiu acossado pela onda de destruição em massa, tudo nos seus filmes era destruição.



Tinha destruído praticamente todas as cidades importantes americanas – Nova Iorque, São Francisco,Washington D.C - sentia necessidade de mudar, de abandonar conceitos destrutivos. A construção de sonhos foi a sua visão seguinte. É assim que chega em 1958 a The 7th Voyage of Sinbad, uma clara mudança no estilo de Harryhausen. Para além de uma mudança, será uma entrada em grande no mundo dos mitos, e com um sucesso tal que o levaria à concretização de mais três sequelas. A fantasia continua com The 3 Worlds of Gulliver em 1960, passando por Mysterious Island, 1961, uma sequela de 20,000 Leagues Under the Sea. Chega finalmente o ano da consagração de Harryhausen, com Jason and the Argonauts, 1963, uma entrada directa para dentro do verdadeiro universo do fantástico, a mitologia grega, entrada que voltaria a repetir com o último filme da sua carreira The Clash of Titans em 1981.


Para Harryhausen, “a essência da fantasia é transformar a realidade em imaginação”, ou seja, ele vê o seu trabalho como uma porta para o imaginário. Ao criar animação, ele pretendia desenvolver um universo tal, apenas reconhecível numa perspectiva de sonho. Harryhausen fez o último filme em 1981 e em 1982, surge Tron da Disney. Talvez a aparição de Tron tenha levado Harryhausen a desistir de uma arte, que de alguma forma se revelava incapaz de lutar em pé de igualdade contra uma indústria tão poderosa como os gráficos por computador que, por sua vez, davam sinais fortes de domínio, através de aumentos sucessivos nas capacidades de produção de fotorealismo. No entanto, apesar dessas capacidades, Harryhausen considera ainda hoje, que a arte por detrás do stop-motion é a única capaz de fazer verdadeira justiça ao reino da fantasia. Nas suas palavras, “a fantasia é o mundo do sonho, e o stop-motion, não sendo completamente realista, consegue dar o extra que aproxima a imagem do sonho”.

Para as referências e notas de rodapé consulte o livro Emoções Interactivas (2009). 

agosto 20, 2012

RIP: Tony Scott (1944-2012)

Tony Scott morreu hoje com 68 anos, e ao que tudo indica foi suicídio, saltou da ponte Vincent Thomas em LA. Estou chocado, e só isto me fez interromper a pausa neste blog.


Vi todos os seus filmes, apesar de nunca me ter assumido um seu fã, mais porque adorava o trabalho do seu irmão, e por comparação, nunca consegui colocar o Tony Scott ao nível de Ridley Soctt. Apesar de operarem temáticas bastante distintas no início, uma simples comparação por exemplo entre Someone to Watch Over Me (1987) de Ridley e Revenge (1990) de Tony, dois filmes que se podem comparar no género, dá para ver de imediato o que eu sentia falta em Tony. Ridley sempre foi fabuloso em termos expressivos visuais, a sua formação de base em Pintura permitia-lhe brincar com a luz de uma forma inigualável, os brilhos, a saturação da cor, a sombra sobre o que não interessava e a forte iluminação sobre o que era importante. Tony por outro lado assumia um carácter muito mais naturalista na luz, menos expressivo, fazendo-se valer da acção criada no ecrã, em vez da estética visual.

Top Gun (1986)

Em termos metafóricos podemos dizer que era menos intelectual que Ridley, mas completamente hiperactivo. Um dos elementos centrais de Tony Scott tem sido e com forte acentuação nos seus últimos filmes a corrida contra o tempo. Com isso criava um verdadeiro frenesim visual e sonoro, experiências cinematográficas inesquecíveis. Em certa medida podemos ver o Tony Scott como um mentor de Michael Bay.

Enemy of the State (1998)

Por outro lado era um realizador adorado pelo público e também por uma grande parte da crítica, aliás só isso explica que tenha conseguido realizar 16 filmes de grande orçamento, com grandes estrelas de hollywood. É uma produção impressionante criada ao longo de quase 30 anos, dá um filme de grande produção a cada 2 anos.
  • Unstoppable (2010)
  • The Taking of Pelham 1 2 3 (2009)
  • Deja Vu (2006)
  • Domino (2005)
  • Man on Fire (2004)
  • Spy Game (2001)
  • Enemy of the State (1998)
  • The Fan (1996)
  • Crimson Tide (1995)
  • True Romance (1993)
  • The Last Boy Scout (1991)
  • Days of Thunder (1990)
  • Revenge (1990)
  • Beverly Hills Cop II (1987)
  • Top Gun (1986)
  • The Hunger (1983)

True Romance (1993)

Praticamente todos os seus filmes foram sucessos de bilheteira. Por outro lado alguns dos seus filmes transformaram-se em filmes de culto: The Hunger com David Bowie e Catherine Deneuve e True Romance com guião de Quentin Tarantino. Eu apesar de não ser um fã acérrimo, gostei de quase todos os seus filmes, talvez o menos conseguido tenha sido Revenge. De todos gostei do Top Gun quando saiu, podemos quase comparar Top Gun a uma canção pop dos anos 1980, sendo hoje um filme indissociável dessa década. Contudo os seus melhores trabalhos além das duas obras de culto, são para mim Enemy of the State e claro Man on Fire. Gostei bastante também de The Fan com De Niro, de Deja Vu com Denzel Washington e The Taking of Pelham 123 com Travolta, embora estes dois últimos estejam já demasiado carregados de uma estética visual que difere da sua marca, fruto da atual excessiva "maquilhagem" em pós-produção de Hollywood.

Man on Fire (2004)

Tony Scott foi responsável por dar lugar a uma geração inteira de actores negros de Hollywood, começando com Eddie Murphy em Beverly Hills Cop II, passando por Damon Wayans em The Last Boy Scout, Will Smith em Enemy of the State e trabalhando umas impressionantes 5 vezes com Denzel Washington em Crimson Tide, Man on Fire, Deja VuThe Taking of Pelham 1 2 3, Unstoppable.

Tony Scott marcou e marcará a história de Hollywood por muitos anos.

maio 12, 2012

Maio negro

Estamos a um terço do mês e contamos já com 5 mortes de relevo na cena da arte e cultura nacionais e internacionais. Alguns eram já monumentos vivos - Fernando Lopes, Maurice Sendak e Vidal Sassoon - outros - Adam Yauch e Bernardo Sassetti - tinham ainda muito para dar ao mundo em termos criativos. E se é verdade que a morte é uma condição do ponto de vista racional perfeitamente natural, emocionalmente continua a afectar-nos. Aqui fica uma pequena homenagem, porque apesar de terminadas, as suas vidas continuarão a dar muito a todos nós.

"Dying Gaul", do bronze original de Epigonus 230-220 A.C.


Fernando Lopes, 2 Maio 2012 [1935]

Excerto de "Fernando Lopes, Provavelmente" (2008), de João Lopes

"A Abelha, à sua maneira, no conjunto do Cinema Novo português, é o primeiro gesto radicalmente moderno do cinema português"

"Sou um realizador improvável porque, como diria o O'Neill, estou onde não devia estar. Nada na minha vida indicava que eu podia vir a ser um realizador de cinema. Vim de uma aldeia, em fuga, passando por aventuras várias, em Lisboa e fora de Lisboa. No fundo, o que estava previsto era que eu fosse um camponês da Várzea, alguém que trabalhasse a terra… e depois acabei a trabalhar imagens e sons."


Adam Yauch, 4 Maio 2012 [1964]

"Fight For Your Right (Revisited)" (2011) [Completo]

Fight for your Right (Revisited) foi realizado pelo próprio Adam Yauch para comemorar os 25 anos do vídeo original e que conta com a participação de actores como Elijah Wood, Susan Sarandon, Stanley Tucci, Ted Danson, Roman Coppola, Steve Buscemi entre muitos outros


Maurice Sendak, 8 Maio 2012, [1928]

"TateShots: Maurice Sendak" (2011)

"I do not believe that I have ever written a children's book. I don't know how to write a children's book. How do you write about it? How do you set out to write a children's book. It's a lie."


Vidal Sassoon, 9 Maio 2012, [1928]

Trailer de "Vidal Sassoon: The Movie" (2010)

"My idea was to cut shape into the hair, to use it like fabric and take away everything that was superfluous"


Bernardo Sassetti, 10 Maio [1970]

"Homecoming Queen" (6:34), Motion, de Bernardo Sassetti Trio

"Quando se vive muito intensamente a música, a música que vive cá dentro, que vem cá de dentro a fervilhar, o grande segredo para a sua transmissão e partilha é o acto contido sobre o que temos e encontramos no fundo de nós."

"A representação artística das coisas, e do que nós vivemos tem um sem número de interpretações. Eu posso olhar para uma imagem e reparar em coisas que para outra pessoa são completamente secundárias. Eu, por exemplo, gosto de uma certa estranheza, de um certo mistério nas imagens. E preocupo-me pouco com as coisas mais objectivas nas imagens."

abril 19, 2012

RIP: Hillman Curtis (1961-2012)

Hillman Curtis morreu hoje ontem, com 51 anos, vítima de doença terminal. Tocou-me. Curtis foi alguém que encontrei há muitos muitos anos em buscas online para saber mais sobre as ferramentas da Macromedia, queria saber mais sobre quem estava por detrás, comprei e li os seus livros, vi os seus trabalhos. Curtis foi contagiante e soube despertar em mim um espírito criativo conectado com as tecnologias. Foi alguém que eu segui como uma espécie de mentor ao longo dos últimos 15 anos. Desde a criatividade digital, ao motion graphics, até à web gráfica dinâmica foram tudo janelas que ele foi abrindo e mostrando que era possível pegar na linguagem cinematográfica fundi-la com a do design gráfico e criar todo um novo mundo de representação criativa online. O seu mantra era,

 "motion is the message"

Aqui fica um filme, de e com Hillman Curtis, filmado há pouco mais de 1 mês, uma espécie de resumo do seu legado, e um adeus.

março 10, 2012

RIP: Moebius (1938-2012)

O mundo perdeu hoje um dos maiores artistas da banda desenhada francesa, e um dos mais reconhecidos concept artists do cinema internacional. Conhecido como Moebius, o seu verdadeiro nome era Jean Giraud. Morreu aos 73 anos vítima de cancro.

Jean Giraud na exposição Moebius-Transe-Forme, realizada pela Fondation Cartier Pour L’Art Contemporain entre 2010 e 2011

À sua carreira não faltou reconhecimento tendo recebido cerca de 20 prémios entre festivais de Banda Desenhada (BD), de Ficção Científica (FC), e de reconhecimento. Toda a comunidade ligada à BD, à FC e ao cinema fantástico reconhece neste um dos maiores visionários da representação visual. Como diz Ridley Scott “You see it everywhere, it runs through so much you can’t get away from it.”

Concept art para Tron (1982)

Começou na BD com o género western criando uma série de culto em França, Blueberry (1963..) que viria a ser adaptado ao cinema em 2004 tendo no elenco nomes como Vincent Cassel e Juliette Lewis. Mas é o seu trabalho conceptual para o cinema que o vai transformar numa estrela internacional, participando na criação conceptual de: Alien (1979), The Time Masters (1982), Tron (1982), Masters of the Universe (1987), Willow (1988), The Abyss (1989), The Fifth Element (1997). Ou ainda o nunca realizado Dune de Alejandro Jodorowski em 1975, e ainda o seu trabalho com Dan O'Bannon no livro The Long Tomorrow (1975) que viria a servir de influência maior em todo o visual de Blade Runner (1982).

Concept art para The Abyss (1989)

Storyboards de Moebius para Dune de Alejandro Jodorowski que nunca viria a ser realizado.

 The Long Tomorrow (1975) escrito por Dan O'Bannon e desenhado por Moebius

Em 1988 Moebius iria colaborar com Stan Lee para criar uma das histórias do Surfista Prateado mais comoventes dessa década, A Parábola (1988).

Silver Surfer: Parable (1988), escrito por Stan Lee, desenhado por Moebius

Não é possível passar pela enorme quantidade de trabalho produzido por este artista num pequeno texto, por isso e para ficarem a conhecer melhor o seu trabalho aconselho vivamente o visionamento do documentário In Search of Moebius (2007) da BBC. O documentário está disponível no Daily Motion em três partes, deixo aqui abaixo a primeira parte.

outubro 08, 2011

Steve Jobs, o designer de interação

Steve Jobs (1955-2011) foi um visionário, porque viu diferente, e viu à frente de todos nós. Steve Jobs não inventou, fez antes aquilo que os melhores criativos e grandes inovadores sempre fizeram, pegou em algo e transformou, deu-lhe uma nova forma e um novo uso.

Steve Jobs Drawing, por Guillermo Contreras

No caso de Jobs a sua maior sensibilidade criativa passou pelo modo visionário como deu forma à experiência das tecnologias computacionais. Ou seja Steve Jobs foi um dos maiores génios de sempre no campo do Design de Interacção, um dos campos mais relevantes dos estudos da Interação Humano-Computador (IHC).

A primeira apresentação pública do Macintosh, 1984

O seu maior legado à humanidade tem o nome que durante décadas se confundiu com o nome da própria marca, o Macintosh, lançado em 1984. O Macintosh tecnologicamente era um bom computador pessoal e essencialmente apresentava um excelente preço para a altura. Basta pensar que o primeiro Macintosh custava 2 mil dólares, enquanto o seu antecessor, o Lisa, custava 10 mil. Esta redução de preço deve-o fundamentalmente ao co-fundador da Apple, Steve Wosniak. Wosniak é um dos mais brilhantes engenheiros de eletrónica de sempre, e claramente que sem ele não teríamos tido o Macintosh.

Steve Wosniak falando pouco depois de ter sabido da morte de Steve Jobs a 6 de Outubro de 2011. Pela Associated Press. 

Mas se o Macintosh se tornou em um dos ícones mundiais da computação, não foi por causa da sua eletrónica, embora claramente tenha impulsionado. Foi antes pelo modo como foi desenhada a relação entre o utilizador e o computador. Até aqui o utilizador de computadores tinha de ler e aprender muita coisa antes de poder começar a usar um computador. Com o Macintosh foi inaugurado o caminho das interfaces gráficas para os utilizadores (GUI) que faziam uso do rato e do teclado.


O utilizador tinha sido libertado da opressão das interfaces crípticas de comandos textuais, algo que foi metaforizado de forma brilhante numa campanha publicitária.

1984, publicidade de lançamento do Macintosh

A grande questão que muitos levantam é que este sistema de interface gráfica não terá sido inventado pela Apple nem pelo Steve Jobs como popularmente se costuma pensar. A interface gráfica do Macintosh nasceu de uma máquina anterior, a workstation Xerox Star, comercializada pela Xerox em 1981.
Xerox Alto, 1973

À primeira vista poderíamos dizer então que Jobs nada fez e que se terá limitado a usar o que já existia. O problema é que a realidade não é tão simples. O Xerox Star não foi de todo o primeiro computador com interface gráfica a fazer uso do rato. Antes deste, a Xerox na sua divisão de investigação a PARC (Palo Alto Research Center Incorporated) tinha já criado um computador com interface gráfica, o Xerox Alto, em 1973, que era utilizado internamente e nunca foi comercializado.

Mas a Xerox foi apenas um passo intermédio, a base está lá mais atrás em nome de três senhores Vannevar Bush, Ivan Sutherland e Douglas Engelbart. Assim Bush foi o primeiro grande visionário de todos estes sistemas de acesso aos dados, através de uma ideia conceptual apelidada de MEMEX e que apareceu publicada no mais importante texto dos estudos sobre Interacção Humano-Computador, As We May Think, um texto de 1945. Neste texto Bush desenvolve a ideia de que os computadores deveriam permitir um acesso à informação da mesma forma como o nosso cérebro funciona. Ou seja em Pensamento Associativo, as ideias ligadas entre si por nós, o que daria origem àquilo que viria a ser definido como Hipertexto, depois Hipermédia, mais comummente Multimédia, ou então como é hoje apelidado em termos corretos pela academia, os Media Interativos.

O MEMEX era de uma forma simplificada aquilo que hoje conhecemos como a WWW. Mas não passava de uma visão, não existia qualquer tecnologia que lhe pudesse dar corpo à altura. Assim em 1961 Sutherland criará o primeiro sistema computacional de interacção gráfica, que recebeu o nome de Sketchpad. Este sistema é assim a primeira tecnologia de sempre a permitir uma interatividade gráfica na relação Humano-Computador. Fazendo uso de uma Caneta de Luz podíamos interagir com o ecrã. E foi o Sketchpad que levaria depois em 1967 Engelbart a inventar e a patentear o primeiro rato para computador, na altura feito em caixa de madeira, mas conceptualmente o mesmo tal como o conhecemos ainda hoje.

Sketchpad (1961) de Ivan Sutherland

Dito tudo isto, e mais se poderia dizer, o que podemos ver, é que como nos diz Kevin Kelly, as invenções tecnológicas não são algo que possamos atribuir a uma pessoa apenas. Existe uma espécie de inevitabilidade tecnológica que empurra o desenvolvimento e que pode levar mesmo a que várias pessoas criem tecnologias muito próximas quase simultaneamente em diferentes partes do globo. Isto mesmo falei aqui no VI sobre as tecnologias de criação do Cinema a propósito dos Irmãos Lumière.

Como se pode ver por esta descrição entre o artigo de Bush e o primeiro Macintosh distam praticamente 40 anos. Ou seja, de todo podemos dizer que Jobs inventou a interação gráfica entre o homem e o computador. Mas o que podemos dizer é que foi ele o primeiro a conseguir juntar a tecnologia correta com a interface correta. Ou seja, Jobs consegui ao fim de 40 anos concretizar a visão de Bush.

O que isto me diz a mim, é algo sobejamente conhecido sobre a sua pessoa, é que ele era um “doer”, alguém que fazia, e não sonhava apenas em vir a fazer. Era alguém capaz de liderar várias pessoas, obter o melhor de cada uma delas, e chegar a um objeto final que respondesse de forma altamente eficiente às necessidades. O seu talento e genialidade define-se assim no campo do Design de Interação, da Interacção Humano-Computador.

Jobs não se limitou a marcar em 1984 com o Macintosh, mas voltaria a marcar novamente em 2007 com o iPhone. Mais uma vez o iPhone está longe de ter sido a primeira tecnologia do tipo, a Apple investiu nisto durante uma década num projeto chamado Newton, ainda antes dos primeiros Pocket PCs e PDAs terem surgido. Mas o iPhone tal como o Macintosh revolucionou por completo o campo dos telemóveis, dos smartphones, dos Pocket PCs, dos PDAs, no fundo de toda a computação móvel. E a sua revolução não foi a tecnologia, mas sim a forma e corpo dada à experiência dessa tecnologia.

A conceptualização do iPhone assente num único botão físico é impressionante e a concorrência demorou a encaixar esta inovação em termos de design de interface, enquanto os utilizadores se sentiram de imediato aptos a fazer uso disso mesmo. Todo aquele objecto e sistema operativo é eficiência e funcionalidade, com um grau de usabilidade que a concorrência não pôde reinventar, mas apenas copiar.

Muito mais se poderia dizer, mas serão precisos vários livros para falar de todo o impacto que esta pessoa teve no mundo das tecnologias de computação. Pelo meu lado tento seguir todos os dias muito do seu legado, na minha investigação diária no engageLab, e tento passar muito deste legado aos meus alunos do Mestrado em Tecnologia e Arte Digital e do Mestrado em Media Interativos na Universidade do Minho.


Deixo aqui apenas mais três links para que possam ver e ler mais um pouquinho sobre esta pessoa que nos deixou. Apple’s Passionate pitchman - Um histórico das apresentações mais importantes realizadas por Steve Jobs na Apple, pela CNN.
Steve Jobs’s Patents - Infografia interactiva do NYTimes onde podemos rever todas as patentes em que Steve Jobs esteve envolvido ao longo da sua vida.
Steve Jobs e o mundo dos Games - Apontamento sobre quatro legados ao mundo dos videojogos.

março 23, 2011

Elizabeth Taylor (1932-2011)

Hoje depois de um dia inteiro de trabalho, sem acesso a notícias ou net, e já no comboio para apanhar o avião e sair da sua cidade natal descubro que Elizabeth Taylor nos tinha deixado. Não foi surpresa, 79 anos não é propriamente uma idade que permita sonhar muito mais, mas não deixa de nos comover.
Chega ao fim a centelha da única verdadeira rival de Marilyn Monroe, que se fosse hoje viva teria 84 anos. Aliás Liz Taylor serve-nos de modelo sobre aquilo que poderia ter sido a vida de Marilyn Monroe, demonstrando que o glamour e a beleza se desvanece com os anos, e todo o poder magnético perde a força. Marilyn perdurará como eterna musa jovem, imutável na forma, ao passo que Elizabeth fica nas nossas memórias cinematográficas numa série de imagens que a acompanham desde a sua infância até quase ao final.

Retratos de Elizabeth Taylor e Marilyn Monroe retirados por mim de duas obras de Andy Warhol - Silver Liz (1963) e Gold Marilyn Monroe (1962)

A sua memória perdurará muito graças àquilo que referia hoje o Evening Standard como sendo um hat-trick: "being a child star, a bombshell and a credible actress" [1]. No cinema perdurará o seu talento por gerações que a conhecerão em filmes como: Giant (1956), Cat on a hot Tin Roof (1958), Cleopatra (1963), e um dos melhores filmes que o cinema já produziu Who is Affraid of Virginia Wolf (1966) que lhe deu o seu segundo Oscar.

Lassie Come Home (1943)


Cat on a hot Tin Roof (1958)


BUtterfly (1960) - primeiro Oscar


Cleopatra (1963)


Who's Afraid of Virginia Woolf? (1966), segundo Oscar

dezembro 28, 2010

Denis Dutton (1944-2010)



É com muita pena que escrevo aqui sobre a morte de Denis Dutton. Tinha há pouco mais de um mês deixado aqui um texto, feito com entusiasmo, sobre as ideias de Dutton, "Somos matéria, feita do tempo". Mas é isso mesmo, somos matéria desta eternidade, e com ela vivemos assim como com ela morremos.

maio 29, 2010

Dennis Hopper (1936-2010)

Acabo de ver no IMDB e nem queria acreditar, Dennis Hopper deixou-nos... Hopper é um dos actores que me acompanha desde que me lembro de ter começado a gostar de Cinema... o seu papel em Apocalypse Now (1979) é para mim o auge da sua carreira no sentido em que vai marcar tudo o que fará depois disso, a personagem que ele encarna no filme nunca mais o deixará em paz, aquela pessoa despreocupada, que sente a vida, que desfruta a vida, que vê em frente, que pensa no agora e já... algo que tinha começado com Easy Rider (1969) mas que aí ainda é algo imaturo, talvez também por na sua caracterização ressaltar as preocupações que tinha de ter em rodagem por ser também o realizador.
O meu espanto advém mais de ter apenas há dois dias visto Elegy (2008) em que ele encarna mais um papel típico, de um poeta que goza a vida, e por acaso tinha pensado que o facto de ele estar tão magro e pálido seria da caracterização do personagem mas agora começo a pensar que poderia ser já isto que o atormentava.
Hopper tem na sua conta do IMDB mais de 150 filmes como actor, um feito impressionante. Em muitos dos filmes fez apenas pequenos papéis, mas essa foi também uma das suas imagens de marca, um actor que nunca perdeu tempo, sempre procurou aproveitar o melhor da arte e da vida. São muitos os filmes em que ele entrou e que me marcaram, nem sempre pela sua presença apenas, mas sem dúvida que esta sempre fez a diferença em qualquer obra em que entrou. Ficam aqui alguns dos títulos mais importantes a ver por qualquer amante de cinema:

dezembro 21, 2009

Brittany Murphy (1977-2009)

Brittany Murphy (1977-2009)

Morrer com 32 anos de paragem cardíaca é algo que nos deixa a questionar. Brittany não era propriamente uma actriz tipo, apesar de ter aspecto de bonequinha imprimia nos seus papéis sempre um certo traço de desafio, de inquietude. Momentos destes podem ser vistos em Girl Interrupted (1999), Don't Say a Word (2001), Riding in Cars with Boys (2001), 8 Mile (2002), Just Married (2003), Sin City (2005), entre outros.

junho 30, 2009

Pina Bausch (1940-2009)

Um adeus a um génio da dança e arte, uma especialista em comunicação não-verbal.


Le Sacre du Printemps pelo Wuppertal Tanztheater de Pina Bausch


Vollmond de Pina Bausch

junho 26, 2009

Michael Jackson (1958-2009)

Andava eu na escola primária quando saiu Thriller (1982) provocando todo um furacão mediático da persona de Michael Jackson. Thriller foi responsável por muita coisa principalmente pela criação de uma verdadeira "máquina de promoção" capaz de chegar a todos os cantos do globo e por todos os media existentes, algo nunca antes realizado. Um investimento colossal em merchandising e principalmente num teledisco que criou todo um ícone. Thriller suporta-se num teledisco que não o era propriamente mas antes uma curta-metragem de 13 minutos realizada por John Landis, realizador do famosíssimo An American Werewolf in London (1981). O teledisco é lançado em Dezembro de 1983 e esse Natal marcará profundamente a viragem na indústria da música no que toca à sua adopção do meio visual para suportar as suas necessidades de distribuição. Nesse Natal recebi um poster de metro e meio com a imagem que podem ver acima trazida por uns tios do Luxemburgo. No centro da Europa e EUA o estrondo mediático fazia-se sentir mais fortemente do que em Portugal, um país recentemente saído de um ditadura de décadas. Não me esqueço do poster que me acompanhou durante muitos anos ainda que dobrado e arrumado ao fim de algum tempo, mas também não me esqueço da sua forma estonteante de dançar, do breakdance e do moonwalking.

Tudo isto foi há muito tempo, nos últimos anos o que sentia por MJ é bem descrito pelo colega Luís Santos com quem concordo integralmente. No entanto MJ acaba de se transformar em mais uma figura lendária entrando para a galeria da mitologia do entertainment americano ao lado de figuras como Marilyn Monroe, James Dean, Jim Morrison ou Elvis Presley.

maio 21, 2009

João Bénard da Costa (1935-2009)

Play the guitar
Play it again, my Johnny
Maybe you're cold
But you're so warm inside
I was always a fool
For my Johnny
For the one they call Johnny Guitar
Play it again, Johnny Guitar

What if you go
What if you stay
I love you
What if you're cruel
You can be kind
I know

There was never a man
Like my Johnny
Like the one they call Johnny Guitar

There was never a man
Like my Johnny
Like the one they call Johnny Guitar
Play it again, Johnny Guitar

Johnny Guitar de Peggy Lee faz parte da banda sonora do filme Johnny Guitar (1954) de Nicholas Ray, o filme da vida de João Bénard da Costa.

abril 19, 2009

J.G.Ballard 1930-2009

Morreu hoje J.G.Ballard escritor que considerava escrever livros não sobre Ficção Científica mas sobre "picturing the psychology of the future".

Ballard foi responsável pelo romance por detrás de filmes como Império do Sol (1987) de Spielberg ou Crash (1996) de Cronenberg

janeiro 13, 2009

Claude Berri (1934-2009)

Claude Berri deixa-nos depois de uma das mais prolíficas carreiras cinematográficas do século passado. Resta-nos um espólio para ver e rever e acima de tudo sentir, sentir muito. Berri não foi um dos autores acariciados pelos Cahiers nas vagas dos chamados Autores mas nem por isso se lhe deve menos no que toca à história do cinema francês e mundial. Dois épicos sociais, apenas, serviriam para classificar todo o seu esplendor enquanto visionário do cinema e acima de tudo do saber contar histórias visualmente, falo de Jean de Florette (1986) e Manon des Sources (1986). Aliás, bem cedo na sua carreira, em 1965, Claude Berri, recebia o Oscar para a melhor curta de ficção em Hollywood com Le Poulet (1962).

É no entanto enquanto produtor que Berri mais trabalhou e por isso mesmo nem sempre o seu trabalho obteve a visibilidade que pode obter um actor nos EUA ou um realizador na Europa. Contudo foi com ele que Gainsbourgh conseguiu realizar o seu Je t'aime moi non plus (1976); que Polanski conseguiu dar vida ao clássico Tess (1979); que Annaud pôde filmar L'Ours (1988) e L'Ammant (1992); que Berri pôs em cena Os Maias francês Germinal (1993); que Chéreau conseguiu uma proeza técnica e estética de contornos épicos La Reine Margot (1994); que Schlöndorff dirigiu The Ogre (1996). E já agora não podemos deixar de lembrar o primeiro filme da série Astérix et Obélix contre César (1999) realizado por Zidi.

setembro 27, 2008

Paul Newman

Paul Newman morreu ontem, com 83 anos e em casa, vítima de cancro do pulmão. Um actor que tem o seu lugar reservado na memória colectiva de todos os apreciadores de cinema. Com o auge da carreira nos anos 60 não é um actor da actualidade e muitos dos nossos adolescentes nem saberão quem é apesar de ter permanecido nos ecrãs até há bem pouco tempo. Paul Newman perfila o estereótipo do galã de Hollywood com uma presença carregada de carisma e charme comparável apenas a James Dean. Ambos participaram no casting para East of Eden (1955), ainda que para papéis diferentes e ambos tinham uma paixão louca por carros e velocidade. No entanto e por força das vicissitudes James Dean partiu deixando uma imagem imaculada de jovialidade e rebeldia expressa em apenas três filmes ao passo que Newman deixa todo um legado fílmico e uma narrativa completa com início, meio e fim.

A filmografia é extensa no entanto aponto aqui algumas preciosidades do auge e que devem ser vistas por qualquer bom amante de cinema: Cat on a Hot Tin Roof (1958), The Hustler (1961), Cool Hand Luke (1967), Butch Cassidy and the Sundance Kid (1969), The Sting (1973), The Towering Inferno (1974). Por outro lado e apesar desse auge, Newman não se resignou nem desapareceu mantendo intacto o seu estatuto de estrela de Hollywood fazendo aparições pontuais em filmes como The Hudsucker Proxy (1994) dos irmãos Coen, Message in a Bottle (1999) ou Road to Perdition (2002) de Sam Mendes culminando com o seu último "grande" papel onde dá voz assim como expressão e personalidade a Doc Hudson no filme Cars da Pixar.

setembro 03, 2008

Don LaFontaine (1940-2008)

Uma das vozes que mais marcou o meu imaginário adolescente quando ia ao cinema duas a três vezes por semana. Ouvir esta voz gera uma sensação mágica de universo ficcional de fantasia, imaginação e mundo de sonho. Será muito difícil conseguir um substituto à altura.

Vejam o pequeno filme abaixo, recordem e sintam um pouco dessa magia.


750 000 spots de televisão e 5 000 trailers

julho 25, 2008

RIP Randy Pausch

É com verdadeiro pesar que deixo aqui a notícia de que Randy Pausch nos deixou hoje, 25 de Julho de 2008. Foi há menos de um ano que deu a sua Last Lecture na altura aqui reportada. Dado o diagnóstico era uma morte aguardada contudo custa sempre ver partir pessoas de tanto valor. O seu trabalho e dedicação acompanhou-me ao longo do desenvolvimento de toda a minha tese. Bem haja.

[a partir da CNN]