março 10, 2008

o nosso cérebro coloca-nos em risco

Mais uma excelente campanha de alerta, da Transport for London, capaz de nos ensinar em breves segundos algum conhecimento valioso que nos pode ajude a tomar consciência do risco e a evitar o controlo, errado, exercido pela nossa percepção visual. Para quem trabalha questões visuais este é um assunto linear, contudo quando aplicado em questões práticas a linearidade pode facilmente dar lugar à imprevisibilidade.



[a partir de AdFreak]

é a simplicidade, estúpido

Num artigo hoje publicado na ReadWriteWeb faz-se a previsão da ascensão e domínio da Apple sobre a Microsoft apontando várias razões para tal. De todas as apontadas a que mais me chamou a atenção foi sem dúvida uma questão que me tem apoquentado nos últimos tempos e que diz respeito ao crescente aparecimento de linguagens sempre que uma nova plataforma de trabalho aparece (Java, C, C#, C++, Javscript, Lingo, LUA, Python, AJAX, SQL, PHP, Pascal, Fortran, Assembler, Basic, HTML, XHTML, DHTML, etc). Assim o que Alex Iskold refere neste artigo é a inteligência da Apple ao ter evitado dar saltos entre diferentes linguagens na evolução do seu sistema ao contrário da Microsoft que tem tentado acompanhar e impor muitas vezes sem sucesso, perdendo por vezes as batalhas contra outras linguagens (como o Java da Sun). Uma guerrilha que me faz lembrar a recente discussão Blu-ray ou HD-DVD, ou seja não existe um verdadeiro interesse em fomentar o incremento da utilização, mas antes em criar novas tecnologias, e assim justificar o trabalho dos batalhões de engenheiros informáticos.

Metaforicamente podemos pensar que existem de um lado os exércitos preocupados com o conteúdo e do outro os preocupados com a forma. Os primeiros querem apenas potenciar os materiais disponiveis facilitando o acesso alargado dada a estabilidade e permanência do conhecimento no tempo. Os segundos, preocupam-se maioritariamente com a potencialização do sistema, incremento de possibilidades e propriedades esquecendo que não dão tempo a quem vai utilizar para que este possa verdadeiramente utilizar todas aquelas novas capacidades. Aliás só mesmo assim faz sentido que cada vez que uma nova versão aparece seja necessário criar manuais adaptados aos utilizadores antigos para que eles percebam o que se alterou. Para quem não consegue ver o problema por detrás das linguagens, peço apenas que pensem no Office 2003 e no Office Vista e percebam o quanto a forma mudou, mas o conteúdo produzido pelo software continua idêntico.


Não estou aqui a defender uma atitude conservadora faze à evolução tecnológica. Julgo antes que o que potencia estes modelos de desenvolvimento não são as necessidade dos utilizadores e nem mesmo dos programadores mas antes de um mercado capitalista que não pode apresentar números negativos no final do ano e que por isso necessita de lançar no mercado objectos novos que contenham algo apelativo por forma a convencer os utilizadores a embarcar, nem que para isso se tenha de abdicar da estabilidade e conhecimento adquirido. No caso do Office nada de novo no horizonte, as diferenças estão mesmo na interface que geram burburinho e criam a curiosidade nos utilizadores e depois a artimanha da mudança de tipo de ficheiro que obriga à evolução do parque instalado para poder realizar a leitura dos ficheiros que se vão partilhando.

março 09, 2008

noiva em movimento

Delicioso trabalho que nos chega dos alunos da Vancouver Film School realizado para a cadeira de Motion Design. Bridesmaids é um relato em movimento gráfico sobre os requisitos que uma noiva necessita de preencher para poder chegar ao altar em várias culturas.

Para além de um excelente trabalho com um design limpo, harmonia de tons, bons enquadramentos e um belo trabalho tipográfico, os autores criaram um blog onde depositaram todos os segredos por detrás da criação do trabalho e nesse mesmo blog é possivel descobrir mais alguns dados interessantes. Recomendo vivamente a sua leitura atenta.

criatividade gráfica

Com o mesmo sentido estético e inovador apresentado pelos mais recentes artefactos publicitários flash da Ikea, chega-nos agora este fabuloso pequeno rubi da Adobe sobre o pacote CS3. Um artefacto a estudar com atenção dado seu carácter evolutivo no panorama publicitário, ou melhor na publicidade interactiva. A linguagem é cinematográfica, mas a interactividade, ainda que reduzida está lá e permite a participação do experienciador. Aliás temo em parte que exista alguma dificuldade em catalogar o objecto, porque este poderia ser facilmente catalogado de animação, filme, jogo, brinquedo, publicitário, etc. Artefacto criado por Mike Kellog para a Adobe e que deve ser visto aqui.

interrompendo o tempo

Neste filme da agência australiana George Patterson Y&R para a Schweppes podemos ver uma vez mais como a técnica de desaceleração da realidade continua a impressionar-nos (gravado a 10,000 frames/segundo). Uma técnica que permite desvendar a realidade apresentando dados novos deslocados do tempo real, gerando o espectáculo em toda a sua magnitude. Com uma direcção criativa de Ben Coulson, música dos Cinematic Orchestra e os efeitos a cargo da Fin Design.
Schweppes - Burst


[a partir de Creativity Online]
[vídeo alta qualidade em No Fat Clips]

março 08, 2008

conhecimento aberto

Para quem ainda continua a ter receios de dar o salto, fica aqui uma lista que tenho andado a elaborar sobre software multimédia open-source capaz de substituir os grandes nomes do mercado. Naturalmente que esta migração não é simples e levanta muitos receios aos utilizadores. No caso da câmara de Munique, o anúncio de migrar 14.000 máquinas para ambiente Linux foi feito em 2003, mas só em 2006 é que este movimento se iniciou verdadeiramente, mantendo mesmo assim os dois ambientes em funcionamento dado a inexistência de alguns dos softwares utilizados pela câmara para a plataforma Linux.

Desse modo aquilo que proponho aqui tem por base duas questões: existência de versões compiladas para Windows e estabilidade assegurada. Ou seja qualquer um dos software que aqui menciono pode ser utilizado com bastante segurança, a instalação é de grande simplicidade e pode ser utilizado tanto em ambiente Linux como Windows (na maior parte podem ainda ser utilizados em MacOS, contudo as compilações para Mac não são das melhores). Longe vão os tempos em que para fazer uso destes softwares era necessário ter uma base Linux. Claramente que trabalhar sobre uma base linux, abre outras portas, para além de permitir a integralidade da plataforma em ambiente open-source. No entanto sabemos que nem sempre nos podemos dar a essa comodidade, principalmente em ambientes públicos onde as necessidades são muito diversas de utilizador para utilizador.

GIMP -> Adobe Photoshop
Software de grande qualidade, substitui o grande nome da edição de imagem rasterizada, em utilizações básicas e médias, e pode ser utilizado com grande segurança e estabilidade. Ao contrário do Photoshop CS3 não requer 1gb de memória ram o que facilita ainda mais o seu uso em máquinas menos apetrechadas. Está já na versão 2.4, e o download tem apenas 16Mb.

INKSCAPE -> Adobe Illustrator
Software ainda no inicio, apresenta um grande potencial, e está sem dúvida na linha da frente no que toca a comparação ao Adobe Illustrator. Não é aconselhado a ilustradores profissionais, contudo é fortemente aconselhado a todos quanto usam o Illustrator para acções esporádicas.

Audacity -> Adobe Audition
É um dos mais respeitados softwares de edição de som e como tal não apresenta grandes problemas na utilização.


Blender -> Discreet 3D Studio Max
Dos softwares open-source, este foi sem dúvida, o que maior fama adquiriu ao longo dos últimos anos. A sua capacidade para desenvolver modelação e animação de alta qualidade, permitiu-lhe ser utilizado já em filmes de grande orçamento. Possui uma base de utilizadores enorme, no nosso caso, a base de suporte brasileira é tremenda o que facilita a sua aprendizagem e evolução do mesmo. Ou seja, temos aqui um software a custo zero, que consegue em certa medida rivalizar com pacotes de 5000 euros. Para além da modelação e animação 3d, o Blender vem ainda com um motor de jogo. Para ver as verdadeiras potencialidade deste motor, aconselho vivamente uma visita ao site do projecto Apricot.

VirtualDub -> Adobe Premiere
No campo do vídeo VirtualDub é uma grande referência para quem trabalha com ficheiros de compressão MP4, conseguindo aqui superar o Premiere devido à forma como acede aos ficheiros. Acaba no entanto por perder no que toca à montagem elaborada uma vez que não possui interface de composição. Deste modo o VirtualDub ainda não pode ser encarado como um software de edição vídeo em toda a sua plenitude.

OpenOffice -> Microsoft Office
É conhecido há bastante tempo e muito utilizado mundialmente, é a grande base de suporte ao Linux no sentido em que este pacote que permite criar uma base de utilizadores e não apenas "desenvolvedores". Quando a câmara de Munich se converteu ao Linux, essa conversão tinha como base a convesão à plataforma, mas no essencial às ferramentas de trabalho OpenOffice.

Finalmente temos ainda o browser Firefox que substitui na perfeição o Internet Explorer, apesar de o próprio IE ser também gratuito. Aliás, não se trata de uma mera substituição, em muitos factores como, rapidez no desenho das páginas e inovação no design da interface o Firefox tem andado à frente do IE. Uma das funcionalidades mais interessantes presente no Firefox e ausente do IE é o dicionário de português, actualizado regularmente, que permite a correcção em tempo-real dos textos escritos em páginas web, tal como nesta janela do blog onde escrevo neste momento.

O maior problema na área do multimédia continua a ser o vídeo e a interactividade. O Blender tem um motor de game 3d, mas não substitui um regular programa de hypermedia como o Flash ou Director. Ao nível da composição visual vídeo não existe nada que se aproxime do conceito do After Effects. Contudo e como se pode ver acima, na generalidade dos casos, podemos já socorrer-nos de software aberto que acreditamos ser um dos pontos mais importantes a marcar na defesa da inclusão digital.

Links de listas de software Open-source

OS-Infoguide (produzido pela Câmara de Munique)
List of Open-source Software Packages
List of open-source games
The Simple Dollar

março 07, 2008

Sci-fi, o último bastião literário

Um texto que já queria ter aqui referenciado mas ainda não tinha tido tempo, de Clive Thompson escrito para a revista Wired de Fevereiro e intitulado Take the Red Book - Why sci-fi is the last bastion of philosofical writing. E porquê esta necessidade de o referenciar, porque é um daqueles textos que em pouco mais de 700 palavras consegue apresentar sinteticamente várias ideias de relevo e que nos apontam para possíveis e diferentes caminhos de reflexão.

Primeira ideia, que não é do Thompson, mas que ele referencia a partir do conto sci-fi After Siege de Cory Doctorow. apresenta uma questão de grande actualidade, relevo e profundidade.
What would happen if physical property could be duplicated like an MP3 file? What if a poor society could prosper simply by making pirated copies of cars, clothes, or drugs that cure fatal illnesses?
Já me tinha colocado esta mesma questão em relação ao futebol, e se fosse possível sintetizar o espectáculo do futebol num ficheiro mp3, o que aconteceria a essa indústria, aos ordenados multi-bilionários. Aqui Doctorow vai mais longe, porque extravasa o domínio do entertainment e entra em áreas restritas a lobbies poderosíssimos como a industria automóvel, militar ou da saúde. As consequências desse efeito são segundo a via escolhido pelo autor um pouco catastróficas, de qualquer modo, julgo que haveria lugar para se pensar este mundo alternativo num outro modelo, mais equitativo, talvez.

A segunda ideia desenvolvida por Thompson apresenta outra ideia que me acompanha a algum tempo relacionada com o factor, ou a capacidade da literatura em envolver o leitor num ambiente ficcional. Podemos dizer que o cinema se tem socorrido em muito da forma, que em grande parte é só efeitos-especiais, mas se assim não fosse, não estaríamos perante o mesmo problema que Thompson aqui apresenta,
From where I sit, traditional "literary fiction" has dropped the ball [..] throughout my twenties I voraciously read contemporary fiction. Then, eight or nine years ago, I found myself getting — well — bored [..] Why? I think it's because I was reading novel after novel about the real world. And there are, at the risk of sounding superweird, only so many ways to describe reality. After I'd read my 189th novel about someone living in a city, working in a basically realistic job and having a realistic relationship and a realistically fraught family, I was like, "OK. Cool. I see how today's world works." I also started to feel like I'd been reading the same book over and over again.
Ou seja, parece que a ficção deu lugar à simulação de mundos tão reais como a realidade, tão próximos dos leitores por forma a atingi-los pela via da familiaridade com o tema que se esqueceram que é necessário surpreender e é necessário que a ficção transporte o leitor para um outro nível, que acima de tudo consiga desenvolver o questionamento no leitor.

A última ideia do artigo surge como resposta a estas duas questões, e que dá nome ao artigo, apresentando a ficção científica como o último reduto literário para um imaginário saudavel e estimulante. Thompson sintetiza mesmo este género de um forma bastante interessante e actual tendo em conta os ambientes de simulação proporciondados pelos jogos digitais.
If you run a realistic simulation enough times — writing tens of thousands of novels about contemporary life — eventually you're going to explore almost every outcome. So what do you do then? You change the physics in the sim. Alter reality — and see what new results you get. Which is precisely what sci-fi does. Its authors rewrite one or two basic rules about society and then examine how humanity responds — so we can learn more about ourselves. How would love change if we lived to be 500? If you could travel back in time and revise decisions, would you? What if you could confront, talk to, or kill God?
Uma definição que se aproxima dos ideais professados por John W. Campbell um dos mais conhecidos editores de contos de FC da história e que dizia aos escritores da Astounding Stories: "If you can't make 'em possible, make 'em logical. If you can't research it, extrapolate it!". Assim este artigo de Thompson aponta deliberadamente um caminho de fuga à banalidade do quotidiano em busca de "food for thought", e daí mesmo o subtítulo, em alusão à "red pill" e "blue pill" de The Matrix.

março 02, 2008

Blender e After Effects

Spot publicitário realizado pela empresa brasileira ZQuatro Animação fazendo uso de duas das ferramentas mais interessantes da actualidade no domínio da composição digital, o Blender e o After Effects. O Blender serve a modelação e a animação 3d e é open-source ou seja completamente gratuito, já o After Effects entra na pós-produção do filme e é o software da área mais acessível, não existindo alternativa open-source. Em baixo podem ver a comparação entre a performance realizada pelo actor e efeito da mesma quando replicada via rotoscoping no personagem animado. O filme pode ser visto aqui.

[a partir de BlenderNation]

março 01, 2008

fibreculture

O journal Fibreculture, de acesso livre, publicou recentemente uma colecção de ensaios da 7th International Digital Arts and Culture Conference. Podem encontrar aqui artigos Jim Bizzocchi, Tracy Fullerton, Celia Pearce com temáticas como o Ambient Video, Retrogaming, Art Against Information. Obrigado Manuel.