junho 16, 2012

Nas ondas de um livro

Há algum tempo que falo nisto, não há melhor forma de uma empresa se dar conhecer que é através da criação de propriedade intelectual própria e original. O portefólio de trabalhos para outras empresas é interessante, mas está longe de mostrar exactamente quem está por detrás de uma empresa. Além de que um trabalho como estes abre potencial para continuidade de exploração da ideia, seja em novas curtas, seja em merchandising, físico ou virtual.


É claro que um trabalho com esta qualidade não é para qualquer empresa. Em Much Better Now (2011), podemos encontrar não apenas uma história cativante, mas uma metáfora absolutamente brilhante, que passa por fazer das folhas de um livro as ondas do mar prontas a surfar. Depois a expressividade do personagem é uma delícia. A qualidade estética da atmosfera criada, nomeadamente a cor e a luz, são totalmente coerentes com a mensagem, e tecnicamente perfeitas.




A curta foi criada pela Salon Alpin que é uma empresa criada por dois austríacos, mas localizada em Lisboa. Como dizem os realizadores da curta e fundadores da empresa, Phillip Comarella e Simon Griesser, "viemos das montanhas, mas a nossa sede é junto ao mar".

Much Better Now (2011) de Phillip Comarella e Simon Griesser

Making of Much Better Now

junho 15, 2012

"Indie Game: The Movie" é simplesmente inspirador

Indie Game: The Movie (2012) é o filme que qualquer criador de videojogos vai querer ver, e é obrigatório para todos aqueles que desejam criar videojogos. O filme mostra não só o que está em causa na criação de um videojogo, mas acima de tudo, plasma na perfeição todo o espírito Indie.

Tommy: "It's not a game I made for the people. I make it for myself."
Edmund: "I make games to express myself."
Phil: "It's me. It's my ego, my perception of myself"
Mas a verdade é que isto acontece no momento da criação, no auge da expressão do Eu. Quando se liberta a obra no mundo, o desejo é igual para qualquer artista. Que os outros o percebam, o compreendam, e gostem dele. Como é dito no filme, "é como lançar um filho no mundo".




Isto quer dizer que um artista pretende expressar o seu interior, tudo o que lhe vai na alma, e quer fazê-lo racionalmente, mas como as suas emoções ditam, não como as lógicas de mercado pedem, aqui tudo é emoção e razão em sintonia. Mas isto não quer dizer que não queira saber sobre aquilo que os outros pensam, porque todos queremos. Só que queremos fazer algo de tão puro, de tão único, e ainda assim esperar que os outros nos entendam e nos sigam.




Este filme põe uma pedra final na discussão sobre os videojogos serem, ou não, uma arte. Para quem ainda tiver dúvidas, veja o documentário e perceba o que está por detrás do design de um videojogo, e porque é que estes são uma arte.




O momento no fim do filme em que Edmund nos fala daquilo que mais lhe diz a audiência, em que ele imagina um miúdo que esteve há espera, como ele estaria, para ver sair o jogo e poder jogá-lo. E imagina o momento em que a criança se dá conta que o jogo foi feito por apenas duas pessoas, o Edmund e o Tommy, e o miúdo simplesmente pensa que pode vir a ser como eles, e também criar o seu próprio jogo, que está ao seu alcance. Isto é o ponto mais alto do movimento indie. Um verdadeiro hino ao espírito criativo.


Façam um favor a vós mesmos e comprem o filme - Direct Download, Steam, iTunes - e vejam, e revejam, vale todos os segundos.

Trailer Indie Game: The Movie (2012)

junho 14, 2012

Off Book: "The Evolution of 8-Bit Art"

A arte em 8 bits faz-me lembrar o Vinyl. Apesar de termos criado tecnologias que permitem criar artefactos com melhor qualidade, uma espécie de nostalgia misturada com uma subcultura, neste caso a geek, tem feito com que tecnologias antigas se mantenham aí em uso.


Os 8 bits surgiram como algo espantoso no início dos anos 80 e criaram marcas fortes nas memórias de quem por lá passou. O interessante de tudo isto é que passados todos estes anos, fazendo uso de tecnologias muito mais avançadas, mas mantendo a estética desses tempos, ainda possamos inovar e surpreender.

The idea of 8-bit now stands for a refreshing level of simplicity and minimalism, is capable of sonic and visual beauty, and points to the layer of technology that suffuses our modern lives. No longer just nostalgia art, contemporary 8-bit artists and chiptunes musicians have elevated the form to new levels of creativity and cultural reflection.
Em relação ao episódio, entrevistas e a própria série Off Book, acho que começam a denotar algum cansaço. O episódio anterior sobre o Reddit já não estava muito bem conseguido, este por sua vez também não sai da linha do razoável. Vamos ver como saem os próximos.

Poemas audiovisuais: "OF SOULS + WATER"

A série web OF SOULS + WATER é produzida pela New Belgium Brewing Co. e criada pela Forget Motion Pictures. Consiste em 5 curtas lançadas gratuitamente na web mensalmente, tendo o primeiro episódio surgido em Abril deste ano, sendo que o último será lançado em Agosto.


O objectivo da série é apresentar cinco histórias tocantes, focando-se sobre cinco personagens com os quais cada um de nós se possa identificar, e possamos aprender um pouco mais sobre a humanidade à nossa volta.


O primeiro episódio foi dedicado ao Nómada, o segundo à Mãe, o deste mês será dedicado ao Transformador, o de Julho ao Guerreiro e o último em agosto será dedicado ao Idoso.


Do que pudemos ver dos dois primeiros episódios, são curtas de pura excelência, poemas audiovisuais. Uma fotografia arrebatadora, com textos inspiradores. Curtos filmes, que como eles próprios dizem sofrem de alguma efemeridade, mas que podem estimular em nós momentos de grande inspiração. Gostei particularmente do segundo episódio, da imagem, mas também muito do texto.

Episode I - THE NOMAD
His deep curiosity leads him to the far arctic north, to the streets of inner-city DC, and to the majestic waterfalls of the Pacific Northwest. But what is he seeking?



Episode II - THE MOTHER
Do our mothers still have dreams, hopes and journeys to make? Shot in the Utah Desert.



Dentro deste espírito de mini-séries sobre a natureza, vejam também as curtas da Hazardous Journeys Society.

junho 13, 2012

efeitos visuais nunca antes vistos

Aqui fica um magnífico exemplo de uma equipa, The Marmelade, que se dedica ao desenvolvimento de tecnologias criativas. Ou seja, tecnologias capazes de proporcionar a imagem nunca antes vista. Depois de verem o vídeo abaixo aconselho uma visita ao site aonde poderão encontrar muito mais detalhe sobre tudo o que aqui é dito.

Our customers want the unseen. They require a unique image for their brand, that no one has created before. That's were we start.

Para criar tudo isto que podemos aqui ver foi necessário uma fusão completa entre o digital e o anlógico. A criação do braço robótico Spike capaz de realizar movimentos de câmara entre capturas em altíssima velocidade é disso um exemplo verdadeiramente impressionante.


As imagens que aqui vemos em termos de qualidade fotográfica seriam impossíveis de recriar apenas com recurso ao CGI, e por isso a Marmelade faz a diferença.

junho 12, 2012

TED: Efeitos da História Única

A razão pela qual algumas TEDs são magníficas, e muitas outras nomeadamente as que pululam pelos milhares de TEDx, são apenas satisfatórias ou até medíocres, tem que ver com a capacidade para contar uma história. Não uma qualquer, mas uma história pessoal, a história de uma vida, de se expor e abrir-se ali naquele momento, como se fosse uma confidência que se faz em primeira mão com a audiência.


E é isso que podemos ver nesta magnífica Ted Talk da escritora nigeriana Chimamanda Adichie.
"Quando era criança escrevia histórias passadas na neve, com pessoas que comiam macãs, falavam constantemente do tempo, e que diziam que bom que estava o dia quando o sol brilhava. Mas se o escrevia não era por viver naquela realidade, eu vivia na Nigéria aonde não existia neve, não comiamos maçãs, mas mangas, e não falávamos do tempo porque não era necessário. Eu escrevia sobre aquelas coisas porque aquela era a realidade literária a que eu tinha acesso. E isto demonstra o quão vulnerável podemos ser a uma história, particularmente enquanto crianças.Quando tive acesso a literatura africana fiquei impressionada, ocorreu uma mudança mental em mim."
Sobre os efeitos negativos da História Única, como nos diz Adichie, quando a única história que tenho sobre os Nigerianos é sobre um pai que abusa de uma filha, essa história converte-se na história única sobre os nigerianos, e cria modelos mentais em quem conhece apenas essa história. Deste modo todos os nigerianos homens passam a ser violadores. Por outro lado,
"Não é porque vejo o filme American Psycho que acredito que todos os americanos são serial killers. Mas não é por eu ser uma pessoa melhor do que qualquer outra de outro país. É antes porque tenho acesso a imensas histórias diferentes sobre os americanos". 
No final da comunicação Adichie deixa-nos com um pensamento poderoso, e que nos devia levar a todos a reflectir,
"Quando rejeitarmos a História Única, quando percebermos que não existe, nunca, apenas uma história sobre qualquer lugar, redescobriremos uma espécie de paraíso."

Off Book: "The Culture of Reddit"

Não uso o Reddit, por nenhuma razão em especial, nunca me chamou especialmente à atenção. Mas vendo este novo Off Book, The Culture of Reddit, percebi porque nunca liguei muito ao Reddit, é que este não é mais do que um prolongamento dos fóruns online, que por sua vez eram um prolongamento das BBS.


Não tenho nada contra cada um destes sistemas que contribuíram enormemente para aquilo que a internet é hoje, mas se antigamente ali investia muito tempo hoje não tenho paciência para tal. Uma das grandes razões para esse efeito é o anonimato.


Neste curto documentário isso está bem explícito. Todo aquele ódio lançado em texto é prejudicial a quem o escreve e a quem o lê. E isto é exatamente o mesmo que vemos acontecer nas caixas de comentários dos jornais. As pessoas não se inibem de proferir as maiores barbaridades simplesmente porque estão sob um manto de anonimato. Nesse sentido julgo que por muitos defeitos que o Facebook tenha, a batalha do anonimato foi sem dúvida um dos maiores avanços de sempre na construção de redes comunitárias digitais mais sólidas, abrangentes e duradouras.


Outra das coisas que não gosto no Reddit é a forma. O texto apresentado de forma caótica numa página, sem qualquer organização qualitativa da informação. Aliás é neste campo que o G+, mais tem perdido na sua incapacidade para filtrar e organizar a info em comparação com o Facebook.



Para ver todos os episódios da série Off Book, basta seguir a etiqueta Off Book.

junho 11, 2012

Artigos "estúpidos" na Sábado?!

A primeira vez que li o artigo, Porque nos viciamos em jogos estúpidos da Sábado, ignorei, entretanto voltou a chegar-me o texto e por isso não pude deixar de o trazer aqui, dado a quantidade de erros, e juízos mal-formados que contém. Algo que na verdade não admira nesta revista nem nesta jornalista. Aqui há uns meses eram os estudantes universitários que eram ignorantes, agora são os videojogos que são estúpidos.


O artigo começa da melhor forma, a jornalista que diz que nunca jogou videojogos porque não gosta, é a eleita pela Sábado para escrever um artigo sobre algo que parece ser a nova descoberta da revista, e que é o "facto" de não só os videojogos de smartphones serem estúpidos, como também parece que viciam! Pois porque ao que parece a Sábado ainda duvida que os jogos para smartphones viciem, mas lá que são estúpidos não há dúvidas. Mesmo quando Jason Kapalka refere que os jogos em que a Sábado está interessada, são reconhecidos pela comunidade de criadores, jogadores e académicos, como Jogos Casuais (Casual Games), a jornalista não hesita em dizer que não, estes jogos são estúpidos ele é que "não se atreve a chamar-lhes estúpidos". O que não se percebe é que passamos o artigo todo sem nos apresentarem um único argumento para qualificar os jogos de "estúpidos".

É verdade que aqui há uns meses um jornalista do NYT publicou um artigo levantando a questionabilidade do interesse formativo dos jogos para smartphones, e na altura designou-os de "estúpidos". Mas sobre o que ele quis dizer, e sobre o que está ali em causa discuti já amplamente o assunto na Eurogamer.Pt. Não me parece que a jornalista da Sábado tivesse lido o artigo do NYT, porque se o tivesse lido teria percebido o quão mais amplo é o mundo dos videojogos. Mas isso talvez fosse pedir demais a quem não gosta de videojogos mas tem de escrever sobre eles como ganha pão.


Mas se a questão da categorização dos jogos é feita no ar, sem qualquer argumento que sustente a designação, a demonstração de que este viciam é ainda mais hilariante. Porque é que os jogos de smartphones viciam,
"porque são baratos ou até gratuitos; porque estão incorporados num dispositivo portátil do qual não nos separamos ao longo do dia; e, sobretudo, porque é fácil ganhar."
Mas aqui a Sábado tentou jogar seguro, foi buscar um especialista em Psiquiatria, que em vez de explicar o que é o fenómeno da adicção fala sobre jogos sem saber do que fala. Segundo o especialista o problema está na gratificação constante, e compara o aumento de vício do PC para os jogos smartphones, como da Roleta para as Slot-machines. Isto é insano. Compara o incomparável. Inicialmente ainda pensei que se estivéssemos a falar de Farmville até poderia aceitar a questão da "gratificação constante", mas saltar para os exemplos de Casino é jogo sujo. Porquê? Simplesmente porque numa slot machine ou numa roleta a recompensa não é feita em função de nenhuma acção que mereça a compensação.


Ou seja enquanto em Angry Birds eu tenho de escolher intelectualmente as melhores estratégias de entre: os pássaros que me são dados, os materiais que estes destroem, a ordem em que os posso jogar, a direcção em que os vou lançar, a força com que os vou lançar, e o timing em que vou activar as suas propriedades específicas. Na Slot Machine, o único pensamento que tenho de realizar é saber se ainda tenho moedas para continuar. Em ambos busco a recompensa, mas o modo de chegar até ela é completamente diferente.

Modos de Pensamento Lógico 

Num videojogo a recompensa é dada em função de um conjunto de acções lógicas executadas de modo adequado pelo jogador, seguindo as regras, procurando dar respostas aos problemas apresentados pelos jogos, enquanto na slot-machine a recompensa é pura sorte. Ou seja como nada explica as recompensas das Slot-machines, para os indivíduos menos resistentes a este tipo de estímulos, torna-se impossível parar, porque o seu cérebro não consegue perceber o que se está a passar, e exige mais libertação de dopamina. Por isso os americanos designam o jogo de casino com uma terminologia distinta dos jogos de tabuleiro, nos casinos temos o Gambling, (em Portugal também utilizamos uma expressão por vezes distinta - Jogos de Azar) enquanto nos videojogos temos o Gaming ou Playing.

O artigo está repleto de pérolas, como por exemplo que,
Grand Theft Auto (o polémico jogo para computador em que se ganham pontos por atropelar velhinhas na passadeira e roubar carteiras).

uma surpresa...

Porque o mundo tem surpresas assim, ainda que vivamos cada dia que passa mais em correria, ainda existe entre nós quem vá dando valor ao que de melhor existe na humanidade, a Amizade. As fotos abaixo são de um cesto de produtos regionais que me aguardava no interior da casa no Monte Alentejano aonde passei o meu dia de aniversário neste ano. O cesto vinha da parte de amigos que estavam bem longe.



Sabe bem ter amigos assim. Obrigado.

da arte conceptual, John Baldessari e Tom Waits

Muito honestamente não conhecia John Baldessari. Apesar de achar uma certa "graça" à arte conceptual, nunca lhe reconheci grande valor, pela simples razão de que acredito que uma obra deve ser capaz de valer per se. A minha perspectiva sobre a arte diz-me que ela deve ser, essência, e como tal deve valer-se apenas de si e de tudo o que consiga estimular em seu redor.

Stonehenge (With Two Persons) Green, 2005 de John Baldessari

Além disso existe uma outra questão subjacente à arte conceptual que me incomoda, que é o facto se atirar mais em direcção ao académico e menos ao artístico. Ou seja, é verdade que as ideias subjacentes a muitas destas obras são de grande excelência, mas na maior parte das vezes são depois suportadas por técnica artística algo básica. Se percebo que o que se quer transmitir se pretende que esteja acima do artístico, e se pretende que não possa ser perturbado pela beleza do que esta possa transmitir, também é verdade que nos soa a algo básico em termos técnicos. Concluindo porque isto daria muita discussão, se alguém tem algo a dizer, mas tem dificuldade em exprimir essas ideias em formas visuais, sonoras, escultóricas ou outras então que o faça simplesmente em texto, em texto académico e depois debata com os seus pares. Agora criar um hibridismo no qual a técnica artística é na maior parte das vezes menosprezada em favor de uma ideia, de uma mensagem que se quer comunicar, parece-me pouco eficiente.

The Spectator Is Compelled …, 1966–1968, (2004) de John Baldessari

Não quer dizer que esta não devesse existir, porque esta tem servido em muitos momentos da nossa história para criar a ruptura, o que é desde logo de extrema relevância. Mas não chega, pelo menos para mim!

Everything is Purged from this Painting, 1968 de John Baldessari

Quanto ao pequeno documentário criado para o Los Angeles County Museum of Art | LACMA por Henry Joost e Ariel Schulman, a dupla que já tinha feito o interessantíssimo documentário Catfish (2010), é toda uma outra abordagem. São 5 minutos feitos num mashup de imagens, quadros, textos, vozes, filmes antigos, tudo colado pela narração monumental de Tom Waits. Acredito que muitos como eu que não conheciam Baldessari o quererão conhecer depois de ver este brilhante trabalho audiovisual de Henry Joost e Ariel Schulman e Tom Waits. Um filme que tem muito pouco de conceptual e muito de artístico, de atenção ao detalhe estético, em que o filme se cola na perfeição às imperfeições da voz de Waits. Tanto Waits como este filme de Joost e Schulman têm muito pouco de conceptual, e isso não deixa de ser interessante, e estimulante à volta de tudo o que aqui discutimos.

A Brief History of John Baldessari (2012) de Henry Joost e Ariel Schulman